R.S. Douglas, G.J. Kahaly, A. Patel, S. Sile, E.H.Z.
Thompson, R. Perdok, J.C. Fleming, B.T. Fowler, C. Marcocci, M. Marinò, A.
Antonelli, R. Dailey, G.J. Harris, A. Eckstein, J. Schiffman, R. Tang, C.
Nelson, M. Salvi, S. Wester, J.W.
Sherman, T. Vescio, R.J. Holt, and T.J. Smith
N Engl J Med 2020, 382(4):341-352.
Trata-se
de ensaio clínico randomizado, duplo-cego, multicêntrico, que avaliou a
eficácia e a segurança do teprotumumabe, em comparação ao placebo, no
tratamento da oftalmopatia associada à doença de Graves em atividade em 24
semanas. Foram incluídos adultos (18-80 anos) com oftalmopatia moderada a
severa, em atividade e sem tratamento prévio, que apresentassem ≥1 das
características a seguir: retração palpebral ≥ 2 mm, envolvimento moderado a
severo de partes moles, proptose ≥ 3 mm acima da normalidade para raça e sexo,
diplopia periódica ou constante, CAS (Clinical Activity Score) ≥ 4 e
início dos sintomas dentro dos 9 meses antes do recrutamento. Pacientes com
acometimento do nervo óptico, portadores de doença inflamatória intestinal, de diátese
hemorrágica, de malignidade, de HIV e/ou hepatites virais foram excluídos.
Após
recrutamento, os pacientes foram randomizados (1:1) para receber teprotumumabe ou
placebo uma vez a cada três semanas durante 21 semanas, totalizando 8 infusões.
A dose administrada de teprotumumabe foi de 10 mg/Kg na primeira infusão e de
20 mg/Kg nas infusões subsequentes. A última avaliação clínica foi realizada na
24ª semana. Os pacientes, os investigadores e a equipe foram cegados, e a
exoftalmometria foi realizada com o mesmo exoftalmômetro de Hertel e pelo mesmo
avaliador em cada centro.
O
desfecho primário foi a resposta da proptose, caracterizada por redução da
proptose em ≥ 2 mm em relação ao basal, sem que houvesse aumento de ≥ 2 mm no
olho contralateral, em 24 semanas. Os desfechos secundários incluíam resposta
geral (redução de ≥ 2 pontos no CAS e de ≥ 2 mm na proptose), redução do CAS
para 0 ou 1, variação na proptose (mm), no grau de diplopia (conforme Gorman
Diplopia Score) e na escala de qualidade de vida (GO-QOL). Foram
avaliados desfechos de segurança com destaque para eventos adversos de maior
interesse, como reações relacionadas à infusão, hiperglicemia, espasmo
muscular, diarreia e alterações auditivas. Em um único centro nos EUA, 6
pacientes foram submetidos a exame de imagem da órbita antes e depois do
tratamento com objetivo de avaliar o efeito nos tecidos extraorbitários. A
análise foi por intenção de tratar.
Foram
randomizados 83 pacientes, 41 para o grupo do teprotumumabe e 42 para o grupo
placebo; destes, 39 e 40 completaram o estudo, respectivamente. Quanto às
características basais, os grupos eram semelhantes, com média de idade de 50
anos, sendo a maioria do sexo feminino (70%), da raça branca (87%) e não fumante
(80%); apresentavam proptose de aproximadamente 23 mm, CAS de 5,0 e função
tireoidiana com valores médios dentro da normalidade.
Na
24ª semana, a resposta da proptose foi observada em 83% e 10% dos pacientes que
receberam teprotumumabe e placebo, respectivamente (diferença de 73 [59 a 88],
IC95%, P < 0,001). A significância estatística foi mantida na análise por
protocolo. Todos os desfechos secundários foram melhores no grupo do teprotumumabe
em relação ao placebo, incluindo a resposta geral (78% vs. 7%, P <
0,001), o CAS de 0 ou 1 (59% vs. 21%), a proptose (-2,82 vs. -0,54 mm, P
< 0,001), a diplopia (68% vs. 29%, P < 0,001) e a escala GO-QOL
(13,79 vs. 4,43 pontos, P < 0,001). Com exceção da escala GO-QOL,
a melhora de todos dos desfechos foi observada logo no início do tratamento, na
6ª semana, sustentando-se até a 24ª semana. Nos pacientes que foram avaliados
com exame de imagem (N = 6), houve redução tanto do volume total da musculatura
extraocular (35%) quanto do volume de tecido adiposo (17%). Os eventos adversos foram, em sua maioria, de
intensidade leve a moderada, e os especial interesse ocorreram em < 5% dos
pacientes de cada grupo. No grupo do teprotumumabe, dois pacientes apresentaram
evento adverso grave e somente um dos eventos foi atribuído à medicação (reação
durante a infusão), levando à descontinuação do tratamento. No Clube de Revista,
foram discutidos os seguintes pontos:
·
Embora os resultados sejam robustos, ressalta-se
a necessidade de comparação da droga com glicocorticoide que, além de ser o tratamento
de primeira linha, tem custo expressivamente menor;
·
É necessária a avaliação do tratamento em longo
prazo, com ênfase na durabilidade do efeito e nos eventos adversos;
·
O benefício do teprotumumabe em pacientes com
orbitopatia leve em atividade ainda não foi estudado.
Pílula do Clube: O teprotumumabe,
em concordância com estudo prévio de fase II, foi superior ao placebo na
redução da proptose e na melhora do CAS, da diplopia e da qualidade de vida de
pacientes com doença de Graves e oftalmopatia moderada a severa em atividade, com
efeito rápido e sustentado no período de 24 semanas. No entanto, são
necessários estudos que o comparem com o tratamento de primeira linha dessa
condição.
Discutido no Clube de
Revista de 27/05/2020.
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