André Lacroix, Feng Gu, Wilson
Gallardo, Rosario Pivonello, Yerong Yu, Przemysław Witek, Marco Boscaro,
Roberto Salvatori, Masanobu Yamada, Libuse Tauchmanova, Michael Roughton, Shoba
Ravichandran, Stephan Petersenn, Beverly M K Biller, John Newell-Price, for the
Pasireotide G2304 Study Group
Lancet
Diabetes Endocrinol 2017. [Epub ahead of print]
Pasireotide é um análogo de somatostatina com alta afinidade
pelos receptores do subtipo 5 amplamente expressos em pacientes com
corticotropinomas. Seu uso subcutâneo diário foi aprovado em 2012 para doença
de Cushing em pacientes com recidiva ou sem remissão da doença. Já a formulação
de liberação prolongada, com uso injetável mensal, é liberada para uso na
acromegalia. Este estudo foi proposto para avaliar se o uso de pasireotide
mensal é igualmente eficaz no tratamento dos pacientes com doença de Cushing
sem doença controlada. Trata-se de ensaio clínico fase 3 em que 150 pacientes
com doença não controlada (diagnosticada por média de cortisolúria de 24h
superior a 1,5 vezes o limite superior da normalidade) foram randomizados para
receber pasireotide mensal nas doses de 10 ou 30mg, seguidos por 12 meses e a
partir do 4º mês de tratamento podiam ter a dose da medicação aumentada caso
ainda persistissem com doença não controlada. O desfecho primário era a
proporção de pacientes que atingisse a média de cortisolúria de 24h abaixo do
limite superior da normalidade (LSN) no 7º mês do estudo, independente do
ajuste de dose no 4º mês. O desfecho secundário principal era a proporção de
pacientes que atingisse o mesmo ponto de corte sem ter realizado ajuste de dose
no 4º mês de estudo. Na análise por intenção de tratar, com 7 meses de
tratamento, pasireotide determinou redução da cortisolúria abaixo do LSN em 41,9% (IC95% 30,5-53,9) dos pacientes do
grupo que iniciou com dose de 10mg ao mês e 40,8% (IC95% 29,7-52,7) no grupo
que iniciou com a dose de 30mg ao mês. No desfecho secundário, a proporção de
pacientes que atingiu o alvo esperado foi de aproximadamente 30%. A meta foi
atingida mais facilmente entre os pacientes que tinham cortisolúria basal mais
próxima dos limites de referência e não demonstrou diferenças entre pacientes
que haviam realizado tratamento cirúrgico previamente ou não. O estudo
também demonstrou redução de peso (3,4 – 6,5 Kg), pressão arterial (5mmHg) e
qualidade de vida (medida pelo Cushing’s
Quality of Life) em ambos os grupos. Todos os pacientes apresentaram
efeitos adversos à medicação, sendo os principais hiperglicemia/diabetes e
sintomas gastrointestinais. Dos pacientes que tinham glicemia basal normal,
54-68% desenvolveram diabetes. Durante o Clube de Revista os seguintes pontos
foram discutidos:
·
A não inclusão de um grupo controle compromete
muito a interpretação dos resultados descritos;
·
O uso de desfecho laboratorial (cortisolúria)
como desfecho primário impede conclusões para a prática clínica. Apesar de
haver desfechos clínicos relatados, o estudo provavelmente não teve poder para
afirmar sobre estes resultados;
·
Uma grande proporção de pacientes necessitou de
aumentos de dose durante o estudo, entretanto não foi claramente descrito no
artigo principal com qual dose a metas foram atingidas, de forma que sobreposição
de grupos deve ter ocorrido;
·
O desenvolvimento de efeitos adversos é
extremamente elevado, com destaque para o surgimento de diabetes em grande
proporção de pacientes
Pílula
do Clube: O uso de pasireotide injetável mensal demonstrou
ser capaz de reduzir cortisolúria em 40% dos pacientes com doença de Cushing
não controlada, sem poder afirmar que esse resultado seja igual ou superior aos
tratamentos já existentes.
Discutido
no Clube de Revista de 16/10/2017.
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