Laurent Azoulay, Kristian B Filion, Robert W Platt,
Matthew Dahl, Colin R Dormuth, Kristin L Clemens, Madeleine Durand, David N
Juurlink, Laura E Targownik, Tanvir C Turin, J Michael Paterson, Pierre Ernst
for the Canadian Network for Observational Drug Effect Studies (CNODES)
Investigators
BMJ 2016, 352:i581.
http://www.bmj.com/content/352/bmj.i581.long
Trata-se
de estudo de coorte retrospectiva com caso-controle aninhado conduzido com o
objetivo de verificar se o uso de drogas incretinomiméticas (análogos do GLP1 e
inibidores da DPP-4) está associado ao aumento do risco de desenvolvimento de
câncer (CA) de pâncreas em pacientes com diabetes
mellitus tipo 2 (DM2). Para tanto, foram utilizados registros de 6 bancos
de dados eletrônicos que contêm histórico dos pacientes assegurados em planos
de saúde do Canadá, Estados Unidos e Reino Unido. Para seleção da coorte
inicial do estudo, foram incluídos todos os pacientes > 18 anos que
iniciaram tratamento com um medicamento antidiabético (exceto insulina) até
30/06/2013. Após, para a composição da coorte oficial do estudo, foram
incluídos todos os
pacientes que iniciaram um antidiabético a qualquer momento desde que os
incretinomiméticos entraram no mercado, até 30/06/2013, seja o primeiro
tratamento ou modificação/acréscimo de droga. Foram excluídos aqueles com
diagnóstico prévio de câncer, malformações congênitas pancreáticas,
pancreatectomizados e os pacientes com prescrição médica vigente por menos de 1
ano após entrada no estudo, para assegurar um tempo mínimo de uso e minimizar o
viés protopático. O seguimento deu-se por pelo menos um ano após a entrada na
coorte até diagnóstico de CA de pâncreas, morte por qualquer causa, fim da
cobertura do plano de saúde, término do estudo (30/06/2014) ou última data de
registro disponível. Para o estudo de caso-controle aninhado, foram
considerados casos os pacientes com hospitalização de pelo menos um dia por CA
de pâncreas. Para cada caso, foram selecionados 20 controles, pareados por
idade, sexo, data de entrada na coorte oficial, duração do DM2 e do follow-up. O
desfecho primário consistiu na taxa de incidência de câncer pancreático. A
associação entre CA de pâncreas e incretinomiméticos foi medida por hazard ratio, tendo como referência a
classe de antidiabético das sulfonilureias. Foram realizadas análises
secundárias e de sensibilidade para avaliar a incidência de CA de pâncreas com
o tipo de incretinomiméticos, duração do uso, número de prescrições
registradas, tempo de latência para CA de pâncreas.
A coorte do estudo incluiu
972.384 pacientes, correspondendo a um seguimento de 2.024.441 pessoas-ano, com
mediana de acompanhamento de 1,3 a 2,8 anos, máximo de 8 anos. Nesse período,
foram identificados 1.221 casos incidentes de câncer de pâncreas, resultado em
uma taxa de incidência de 0,60/1000 pessoas-ano (IC95% 0,57-0,64), semelhante à
taxa descrita para a população geral. Não foi observada associação entre uso de
incretinomiméticos e CA de pâncreas (HR 1,02, IC95% 0,84-1,23), independentemente
da classe, tempo desde a prescrição ou tempo cumulativo de uso. No Clube de
Revista foram assinalados os seguintes apontamentos:
• O
estudo teve resultados consistentes com outros estudos observacionais
publicados que não encontraram associação entre incretinomiméticos e CA de pâncreas;
• Apesar
de ser um estudo de banco de dados eletrônico, o tamanho da amostra e as
características da população estudada permitem validação externa;
• Foram
tomadas diversas medidas para minimizar o viés protopático, que ocorre quando
uma droga é utilizada para tratar um dito desfecho e atribui-se a ela a causa
desse desfecho;
• Sugere-se
que o tempo de latência para o surgimento de CA de pâncreas é de
aproximadamente 10 anos, e o tempo máximo de seguimento da coorte foi de 8
anos.
Pílula do Clube:
neste estudo de base populacional, o uso de drogas incretinomiméticas, por um
período de 1,5 a 3 anos (mediana), não foi associado a um aumento da incidência
de CA pancreático, independentemente se análogos do GLP1 ou inibidores da DPP4.
Considerando o provável longo período de latência do CA de pâncreas, ainda é
necessária a vigilância sobre esse efeito adverso.
Discutido
no Clube de revista de 14/03/2016.
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